História da Cidade


História de Euclides da Cunha

A palavra Cumbe é um termo popular que no Ceará significa cachaça, biongo ou povoado. Os primitivos habitantes do município foram os índios Caimbés, da tribo Tupiniquins, que se instalaram inicialmente no aldeamento de Massacará, transferindo-se posteriormente para outro sítio em que se ganhou mais tarde a denominação de fazenda Caimbés. Dedicavam-se à cultura de cereais e cana de açúcar. Existe ainda hoje, no distrito de Massacará, um número considerável de seus descendentes que mantém os mesmos hábitos e costumes dos seus ancestrais.
A presença da colonização branca deu-se a partir da pecuária, principalmente por colonos oriundos de Monte Santo e Tucano. O povoamento de Euclides da Cunha surgiu através de bolandeiras, ou seja, um mecanismo rudimentar utilizado para descaroçar algodão, ralar mandioca e esmagar cana de açúcar. As casas se multiplicaram devido à construção do açude Tanque da Nação, que era a única fonte de água potável da região. A partir do século XVIII, com a chegada de pessoas do Recôncavo e do Norte, a população de outras regiões se misturou com os primitivos habitantes: índios, vaqueiros e escravos que propiciou o surgimento de vilas, povoados e cidades.
Os caminhos surgiram no final do século XVI e se multiplicaram no século XVII. Foram abertas algumas estradas que passavam pelas fazendas: Jibóia, Contendas e Garrote, além das trilhas abertas entre Monte Santo e Massacará e, Monte Santo e Tucano. Já na segunda metade do século XVIII, foram abertas variantes para que os produtos agropecuários pudessem circular na região.
A cidade de Euclides da Cunha foi erguida num lugar que tinha uma vegetação cerrada que se chamava Mata das Preguiças, por ter inúmeras preguiças agarradas em árvores e se arrastando pelo chão, e “em tempos pré-históricos, abrigava animais de grande porte, inclusive os ancestrais desses mamíferos cujos fósseis foram largamente comercializados durante algum tempo nestas bandas. Como foram encontrados fósseis de peixes, no interior das pedras calcárias, demonstrando que essa região, há milhões de anos, foi leito de um oceano”, afirma José Aras.
O chão vermelho era coberto por um matagal de aroeiras, angicos e cedros, devido à vegetação o clima ficava bastante úmido. Os terrenos da Mata das Preguiças passaram a formar a fazenda Porteiras, que se alongava ao pé do Sobradinho, conhecido como Tanque das Preguiças. Pouco a pouco a mata foi sendo acabada, dando lugar ao plantio de cereais. O lugar passou a ser chamado de Camamu, que segundo o vocabulário indígena quer dizer roça grande.  As primeiras roças eram de Manoel Félix, Filinho, Longinho e Baltazar Lima. Nas proximidades existiam dois biongos de cearenses, flagelados das secas do final do século XVIII e que vendiam cachaça. Um ficava no Cumbe de Cima e outro no Cumbe de Baixo.
O primeiro núcleo populacional do Município foi na fazenda do Cumbe do Major Antonino, de propriedade de Antônio Francisco de Souza Reis, mais conhecido por Major Antonino, primeiro desbravador das terras do município. O Major, primeiro morou na fazenda Curirici, depois se mudou para a fazenda que levou seu nome onde construiu casas na localidade. Ele também beneficiou a área, fazendo uma grande capinagem, onde existiam várias cajaranas. Nessa área ocorreu a primeira feira livre.  Com o passar do tempo, Francisco da Silva Dantas mandou cortar algumas cajaranas e construiu um grande barracão para as feiras livres. Na fazenda Cumbe do Major Antonino situa-se hoje a cidade de Euclides da Cunha.
Cumbe na segunda metade do século XIX pertencia a Monte Santo. Foi por volta de 1840, que José Higino dos Santos estabeleceu-se na Fazenda Carrancudo (leia-se Tanque da Nação) este exigiu do governo um tanque público que atenuou os efeitos das secas para os moradores dessa região. O coletor Antônio Hipólito de Cerqueira entregou a quantia de dois contos de réis a fim de ser construído o tanque e o quartel. Em 1968, dois anos mais tarde, as obras do açude foram finalizadas.
Os operários recebiam por mês uma pataca (moeda de prata), que depois era trocada em selos na coletoria de Monte Santo. A região sofria com a falta constante de moedas. A Casa Grande do Carrancudo era a central das movimentações econômicas, sociais e políticas.
Parte do terreno onde era localizada a Mata das Preguiças pertencia a Ana Luíza, Ana Félix, Maria Balbina, Josefina Maria e Ana Romana França e que foram herdeiras de Manoel Correia da França. A lei das terras (nº 601, de 18 de setembro de 1850) obrigava os donos de terras a se registrarem. Eram consideradas devolutas as terras que não eram levadas a registro.
Antes de 1850, já existia em Cumbe, na Fazenda Carrancudo, uma feirinha onde eram vendidos produtos da terra: fumo, cacau, café, milho, legumes, feijão, farinha, batata-doce, banana, caça, carnes, cerâmica, ferragens e outras. Na atual Euclides da Cunha, a feira livre possui inúmeras barracas de roupas que veste a maioria da população.
A população aumentou e a construção de casas desordenadas, levou a mudança do local da feira. A intenção era alinhar as casas, construir uma capela, para dar início a um vilarejo. Em 1877, tentaram transferir a feira para a o Alto do Lúcio, onde já havia uma capelinha rústica que tinha à sua volta algumas pessoas sepultadas. Meses depois, a feira mudou-se para junto de uma cajarana frondosa, que ficava na roça do Longuinho. Na árvore havia uma peça de madeira lavrada, conhecida como “pau do consolo”, isto porque homens embriagados ficavam ali para curtir sua cachaça.
No domingo, fazendeiros e trabalhadores se dirigiram à roça para construírem as futuras casas. Em pouco tempo demarcaram-se as ruas e a capela. Para dar início às construções o Capitão Higino edificou dez casas e outros o seguiram com as demais casas. A praça foi formada e alinhada como atualmente ainda pode ser vista.
Em 1888, foi construída no meio da praça pelo Vigário Vicente Sabino dos Santos uma capela sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição; onde está situada a Igreja Matriz. Ficou esta capela subordinada à freguesia de Massacará abrigando sob seu teto acolhedor e amigo aqueles que buscavam lenitivo para os males da alma.
Eram realizados batismos, casamentos, missas e novenas. Rojões, gaitas, toadas e foguetes saudaram no dia 08 de dezembro a primeira missa em Cumbe. A igreja foi edificada com ajuda de toda a comunidade, as madeiras foram trazidas das matas do Pedregulho e Araçás e transportadas em carros de bois.
Nesse tempo o cemitério fora concluído. Em 01 de janeiro, o Capitão Higino morre e é sepultado na igreja ao lado do altar, como foram as outras personalidades de Cumbe. As lápides foram talhadas em mármores vindos da Itália. A velha igreja era voltada para o casario tosco, de seu coreto ouviu-se durante muitos anos o som da musicista Neném da Quiló. Em contrapartida, ecoou também a voz decidida de Antônio conselheiro, que segundo o livro No Sertão do Conselheiro, foi dita ali sua afirmativa polêmica: “Olho por olho dente por dente”.
A nova feira era freqüentada por tropeiros dos sertões, em busca das especiarias cumbenses. Cumbe, Uauá, Canudos e massacará eram vilarejos pertencentes a Monte Santo, com o progresso de Cumbe, a vila se tornou uma freguesia.
Atualmente a própria feira da cidade, aos sábados, no centro da cidade, configura-se numa atração à parte. Como o comércio da cidade é um dos melhores da região, a feira é muito movimentada e dela participam camponeses de várias localidades vizinhas. Encontra-se de tudo, desde roupas, utensílios domésticos, artesanato, carnes - principalmente a de bode - comida feita na hora, buchada, ensopados diversos, tapioca, bolos, doces, mingaus de tapioca e milho e outras iguarias típicas do sertão.
O artesanato tem destaque em Euclides da Cunha. Na feira é possível ter uma idéia da variedade das peças. São comercializados sapatos de couro, com solado de pneu, bem resistentes, que já fazem parte do cotidiano do sertanejo, cordas de sisal e aió - uma espécie de sacola feita de fibra de caroá processado artesanalmente, muito utilizado para o transporte de pequenos objetos e como porta-ração para alimentar os animais.
São encontradas ainda cestas de palha de ouricuri e de cipó, além de chapéus de couro de boi, bode, carneiro e etc. O chapéu de couro usado pelo vaqueiro não pode faltar, é a marca registrada do sertanejo. Chapéu, jaleco e perneiras formam um conjunto de couro, bastante utilizado pelos vaqueiros nordestinos e essencial para a sua proteção contra espinhos na lida diária com o gado e outros animais. A feira de Euclides da Cunha ocupa toda a área central da cidade e é considerada a maior da região.
A sede da freguesia da Santíssima Trindade de Massacará foi decretada pela Lei Provincial nº 2.152 de 18.05.1881 transferida para a capela de Nossa Senhora da Conceição do Cumbe. O Município de Euclides da Cunha foi criado pela Lei Provincial nº 255 de 11.06.1898, com o território desmembrado do município de Monte Santo. Por força dos Decretos nº 7.455 de 23.06.1931 e 7.479 de 08.07.1931 Cumbe foi concebido e seu território em face desses últimos decretos foi incorporado ao Município de Monte Santo, nesse caso volta Cumbe a pertencer ao Município de Monte Santo.
Antes da Guerra de Canudos, apesar de pertencer a Monte santo, Cumbe já expandia seu comércio. Durante a Guerra, o movimento caiu quase 100%, só depois da Guerra a situação econômica foi melhorando.
Em face desse último Decreto Estadual nº 8.642 de 19.09.1933, a Vila de Cumbe passou a ser chamada Euclides da Cunha, por sugestão de José Aras, em homenagem ao escritor e autor do livro Os Sertões. Mas só em 30 de novembro de 1938, pelo decreto estadual 11.098, foi sacramentada a idéia e a homenagem ao escritor.
Pelo decreto 141, de 31 de dezembro de 1943 e retificado pelo decreto 12.978, de 01.06.1944, Euclides da Cunha abrangia dois distritos, o da sede e o de Canudos. Pela lei, Euclides da Cunha perdeu parte de seu território para Uauá, inclusive os povoados de Riacho das Pedras, grande faixa da Fazenda Barra e do Riacho Crateús. Por volta da lei 628, de 30 de setembro de 1953 (Lei Orgânica dos Municípios), foi criado o distrito de Massacará.

[Trecho retirado do livro-reportagem: “As Influências de Antônio Conselheiro e seus fiéis em Euclides da Cunha – Bahia”, de Maria Karina Lima de Andrade ]

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